Nos últimos anos o número de casos de pessoas com algum tipo de transtorno alimentar ou com relação problemática com a comida, vem crescendo muito a ponto de chamar a atenção dos profissionais de saúde.
A definição de padrões de beleza midiáticos e a pressão social por corpos cada vez mais magros ou malhados, o uso crescente de mídias sociais e o acesso instantâneo a quase tudo isso, provavelmente tem um papel muito importante nesses números.
Além disso, outras questões emocionais como ansiedade, depressão e TDAH, são fatores de risco para o desenvolvimento desses problemas.
A boa notícia é que as técnicas da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), tem contribuído muito para o sucesso dos tratamentos dessas pessoas.
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Como nem tudo é patológico, vamos começar deixando bem claro o que são transtornos alimentares?
O QUE SÃO TRANSTORNOS ALIMENTARES E QUAIS OS PRINCIPAIS TIPOS?
Resumidamente, transtornos alimentares são perturbações no comportamento alimentar. Mas não é só isso! Geralmente eles estão relacionados a questões biológicas e sociais, além de psicológicas. São considerados quadros psiquiátricos em que o sintoma alimentar aparece por conta de complicações de outras ordens.
Ficou confuso? Calma que a gente já esclarece isso.
Transtornos alimentares são mais comuns em adolescentes do sexo feminino. Dito isso, consegue pensar no motivo para esse fenômeno? Bom! Existe uma influência clara da pressão social que impõe um padrão de beleza e esse público é mais vulnerável em relação a essa imposição. Instagram, YouTube, TikTok estão aí para não me deixar mentir.
Sem querer assustar ninguém, preciso deixar claro que transtorno alimentares não são simples. Eles são potencialmente crônicos, difíceis de tratar e trazem muitos prejuízos para a vida das pessoas.
A alteração nos comportamentos alimentares, o controle excessivo do corpo e as estratégias problemáticas para diminuição do peso, causam graves problemas de saúde física e mental.
Vamos ver quais os transtornos mais comuns?
ANOREXIA NERVOSA
Esse é um distúrbio de imagem corporal em que a característica principal é a pessoa se enxergar maior (mais gorda) do que realmente é. Por isso, o anoréxico vai continuar com os comportamentos cada vez mais exagerados de controle e perda de peso, mesmo estando com um Índice de Massa Corporal (IMC) muito baixo.
É comum que a pessoa faça atividade física exagerada, use remédios laxantes ou diuréticos e passe longos períodos sem comer nada. Nos casos mais graves, a anorexia leva a gastrite, anemia, hipotermia, inibição do ciclo menstrual e desnutrição, necessitando inclusive de tratamento hospitalar.
É um transtorno que também está ligado à preocupação excessiva e o medo constante de engordar, mas diferente da anorexia, pessoas bulímicas comem normalmente ou têm episódios de compulsão alimentar, que nesse quadro, costuma ser seguido de vômitos induzidos, uso de laxantes, diuréticos ou outros comportamentos purgatórios.
Os momentos de perda de controle sobre o consumo de alimentos geram desconforto físico, sentimento de culpa, vergonha e terminam em estratégias para eliminar o alimento do corpo e “reduzir o dano”.
Além das questões psicológicas, a prática constante de vômitos traz consequências físicas como inflamação crônica na garganta, erosão do esmalte dentário, problemas gastrointestinais, entre outras.
Pessoas com esse distúrbio apresentam comportamentos compulsivos, com grande ingestão de alimentos em curtos períodos e aqui, para diferenciar da Bulimia, não existem práticas compensatórias depois (vômitos, remédios...).
Logo, uma das maiores consequências para quem sofre com esse transtorno, é o aumento excessivo de peso que leva a obesidade e maiores riscos de doenças físicas, além do forte sentimento de culpa e de perda de controle sobre o próprio corpo.
É comum que pessoas com Transtorno de Compulsão Alimentar, além de comer exageradamente, façam isso muito rápido e escondido de outras pessoas por medo do julgamento.
Assim como em outros casos da psicologia, é comum que haja uma junção de fatores e não um isolado. O culto excessivo à aparência física, baixa autoestima e o próprio comportamento alimentar vão ter relação com o desenvolvimento dos transtornos alimentares, além de questões fisiológicas, biológicas e genéticas.
Vamos ver cada um deles?
CULTO EXCESSIVO AO CORPO
Figurinha batida já, mas não temos como não falar sobre a imposição de padrões de beleza e a ambição por um corpo perfeito. As exigências sociais e o culto excessivo ao corpo estão aí desde que o mundo é mundo e o desrespeito as pessoas obesas acontece a bastante tempo em forma de “brincadeiras” e “piadas”.
Basta relembrar dos programas de televisão para perceber com as ofensas relacionadas a forma física sempre foram normalizadas e aceitas. Fácil entender de onde vem o “medo de ser gordo” em uma cultura com a postura de incentivo à intolerância, não é?
Assim sendo, as exigências — na maior parte das vezes, feitas no próprio núcleo familiar — e a sensação de humilhação experimentada no convívio social, podem ter sido gatilhos para o culto excessivo ao corpo. Por trás disso também, existe uma das principais crenças disfuncionais do ser humano: a necessidade de ser perfeito.
BAIXA AUTOESTIMA
A baixa autoestima está presente em quase todos (se não todos) os problemas emocionais e transtornos mentais. Questões de autoestima faz com que as pessoas desenvolvam a necessidade de aprovação social e no caso dos transtornos alimentares, o culto excessivo à aparência física, reflete a necessidade de ser aceito pelos outros.
Aqui também vai entrar questões como AUTOCONFIANÇA, AUTOACEITAÇÃO e AUTOEFICÁCIA.
(Veja esse conteúdo que vai ajudar entender como a autoestima influência nos transtornos alimentares 👉aqui)
COMPORTAMENTO ALIMENTAR
Maus hábitos alimentares também podem estar associados ao desenvolvimento desses transtornos. Via de regra, a alimentação deveria ser feita com equilíbrio e contemplando uma variedade de grupos de nutrientes. Porém, pessoas com transtornos alimentares vão dar preferência aos produtos hipercalóricos, como doces e carboidratos refinados. O que vai contar na maioria das vezes é o sabor, o prazer e a sensação de recompensa.
Para estabelecer uma relação saudável com o alimento, é importante saber diferenciar a fome física da fome emocional (tem um post aqui, aqui e aqui sobre isso).
A primeira é percebida quando o corpo tem necessidade de comida para preservar as funções vitais do organismo. Já no segundo caso, existe a busca por comida como forma de sentir alívio e suprir emoções mal compreendidas
Olhar-se no espelho e não conseguir perceber nada bonito ou agradável, é uma realidade de quem sofre com algum tipo de transtorno alimentar. Pessoas que têm a visão distorcida de si mesmas, tendem a negligenciar seus pontos fortes e maximizarem seus defeitos (atinge todas as áreas da vida e não apenas a forma física).
Como a TCC entende que o que gera sofrimento é a interpretação das situações. Fica fácil ver o que acontece aqui, não é? A terapia tem um papel fundamental na desconstrução de pensamentos sabotadores e na formulação de posturas mais funcionais.
SENTIMENTO DE CULPA
Esse é possivelmente o sentimento mais narrado nas sessões de terapia: A CULPA. Assim com a baixa autoestima, esse sentimento é uma das características mais comuns nos distúrbios emocionais e não é diferente com os transtornos alimentares.
Ele pode surgir quando as pessoas comem em excesso, mas também quando deixam de comer ou quando se sentem julgadas por seu comportamento alimentar.
Além disso, a culpa pode surgir em relação a aparência física, por acreditar “não ser bom o bastante”, por não saber lidar com os sentimentos, com a comida, com as pessoas e até mesmo não ter necessariamente um foco.
QUESTÕES HORMONAIS
Por fim, preciso deixar claro que fatores biológicos geralmente fazem parte das desordens psicológicas e que nem tudo é só “coisa da sua cabeça”. Pessoas com transtornos alimentares podem ser desfavorecidos por questões hormonais e o desequilíbrio pode ser tanto causa quanto sintoma de quadros clínicos.
Serotonina, noradrenalina, dopamina, leptina, grelina e cortisol, por exemplo, são alguns dos vários hormônios que atuam na neurofisiologia dos transtornos alimentares.
COMO A TERAPIA COGNIVITO COMPORTAMENTAL AJUDA NESSES CASOS?
De uma forma mais geral, a TCC vai buscar intervenção diretas que ajude a pessoa a lidar com as distorções da imagem corporal, diminuir práticas rígidas de dieta e atividade física, facilitar a manutenção saudável do peso e principalmente: modificar o sistema disfuncional de crenças associada à aparência física, ao peso e à alimentação.
Por que a TCC é a abordagem mais indicada?
Os estudos mostram que o tratamento do transtorno alimentar com terapia cognitivo comportamental traz respostas rápidas, eficientes e com menores índices de recaída e geralmente os pacientes se adequam muito bem ao método.
O psicólogo realiza uma psicoeducação sobre o transtorno (os conteúdos aqui, são uma forma de fazer isso), envolvendo o paciente e a família na luta contra o problema. A ideia é que você possa se sentir ativo no processo, envolvendo-se com a identificação das dificuldades e das potencialidades.
Hoje em dia a indicação principal é que, além dos atendimentos psicológicos, outros profissionais (nutricionistas, psiquiatras e médicos de outras especialidades) sejam envolvidos e trabalhem juntos.
Em casos mais graves, pode ser necessária a internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou o uso de medicações antidepressivas, ansiolíticas ou antipsicóticas.
Superar um transtorno alimentar não é fácil, mas mesmo assim, com intervenções responsáveis, é possível recuperar sua qualidade de vida!
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